O anestésico não está pegando?Acidose e Endodontia: Causa da falha na anestesia de dores intensas.
- Endotoday
- 9 de ago.
- 3 min de leitura

Acidose e Endodontia: Implicações Clínicas e Estratégias de Manejo
Introdução
Na prática endodôntica, especialmente em situações de urgência, é comum encontrar pacientes com dor intensa associada a inflamação e infecção. Em muitos desses casos, o pH tecidual encontra-se reduzido — um fenômeno denominado acidose local. Compreender como a acidose interfere nos mecanismos de dor, na eficácia anestésica e no controle da infecção é essencial para o planejamento de um atendimento eficiente e seguro.
1. Conceito de acidose
A acidose corresponde à redução do pH abaixo dos valores fisiológicos.
No sangue: valores normais variam entre 7,35 e 7,45. Alterações abaixo de 7,35 configuram acidose sistêmica.
Nos tecidos inflamados: o pH pode cair significativamente, chegando a valores entre 5,0 e 6,0.
Na endodontia, o quadro mais frequente é a acidose local, resultante de inflamações pulpares agudas e abscessos dentoalveolares.
2. Acidose local e seu impacto na endodontia
Durante um processo inflamatório intenso:
O aumento do metabolismo celular e a hipóxia local levam à produção de ácido láctico e outros metabólitos.
O pH reduzido altera o equilíbrio iônico das membranas neuronais.
O meio ácido afeta diretamente a farmacodinâmica de anestésicos locais.
Principais consequências clínicas:
Redução da eficácia anestésica. Anestésicos como a lidocaína precisam estar na forma não ionizada para atravessar a membrana nervosa. Em pH ácido, predomina a forma ionizada, diminuindo a penetração e retardando ou impedindo o bloqueio nervoso adequado.
Aumento da dor. O pH baixo sensibiliza nociceptores e intensifica a condução de impulsos dolorosos pelas fibras Aδ e C.
Favorecimento de determinadas bactérias. Anaeróbios acidúricos, como Streptococcus, Lactobacillus e Actinomyces, proliferam mais facilmente em ambientes ácidos.
Alteração na ação de irrigantes. O hipoclorito de sódio e a clorexidina apresentam atividade antimicrobiana reduzida em pH muito baixo.
3. Acidose sistêmica: considerações para o endodontista
Embora menos frequente no contexto odontológico imediato, condições sistêmicas que levam à acidose metabólica — como cetoacidose diabética ou insuficiência renal — merecem atenção:
Risco aumentado de complicações cardiovasculares.
Alterações na resposta a medicamentos, incluindo anestésicos.
Necessidade de avaliação médica prévia e adaptação do plano de tratamento.
4. Estratégias clínicas para contornar a acidose local.
O manejo adequado da acidose no contexto endodôntico envolve:
Técnicas anestésicas alternativas
Utilizar o anestésico articaína a 4% pois é o único anestésico que pode passar pela cortical (local exato na imagem abaixo)
Realizar bloqueios nervosos distantes da área inflamada.
Associar técnicas intraligamentares ou intrapulpares em casos refratários.
Controle da inflamação antes do procedimento
Uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) para auxiliar na restauração do pH local.
Drenagem e alívio da pressão tecidual
Incisão e drenagem em abscessos contribuem para melhorar oxigenação e pH.
Controle rigoroso da infecção
Instrumentação eficiente, irrigação abundante e uso racional de antibióticos quando indicados.
Atenção ao estado sistêmico do paciente
Investigar comorbidades que possam interferir no metabolismo ácido-básico.

Conclusão
A acidose, especialmente a de origem local, representa um desafio significativo na endodontia de urgência. Sua presença está diretamente relacionada à dificuldade anestésica, aumento da dor e alteração na resposta aos irrigantes.O conhecimento desse fenômeno permite ao cirurgião-dentista adotar condutas mais previsíveis, melhorando o conforto do paciente e a eficiência do tratamento.
Referências
Hargreaves KM, Keiser K. Local anesthetic failure in endodontics: mechanisms and management. Endodontic Topics. 2002;1(1):26-39.Walton RE, Abbott BJ. Periodontal ligament injection: a clinical evaluation. J Am Dent Assoc. 1981;103(4):571-575.Cohen S, Hargreaves KM. Pathways of the Pulp. 12th ed. St. Louis: Elsevier; 2021.
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