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O anestésico não está pegando?Acidose e Endodontia: Causa da falha na anestesia de dores intensas.


Anestésico e acidose pular

Acidose e Endodontia: Implicações Clínicas e Estratégias de Manejo


Introdução


Na prática endodôntica, especialmente em situações de urgência, é comum encontrar pacientes com dor intensa associada a inflamação e infecção. Em muitos desses casos, o pH tecidual encontra-se reduzido — um fenômeno denominado acidose local. Compreender como a acidose interfere nos mecanismos de dor, na eficácia anestésica e no controle da infecção é essencial para o planejamento de um atendimento eficiente e seguro.

1. Conceito de acidose

A acidose corresponde à redução do pH abaixo dos valores fisiológicos.

  • No sangue: valores normais variam entre 7,35 e 7,45. Alterações abaixo de 7,35 configuram acidose sistêmica.

  • Nos tecidos inflamados: o pH pode cair significativamente, chegando a valores entre 5,0 e 6,0.

Na endodontia, o quadro mais frequente é a acidose local, resultante de inflamações pulpares agudas e abscessos dentoalveolares.

2. Acidose local e seu impacto na endodontia

Durante um processo inflamatório intenso:

  • O aumento do metabolismo celular e a hipóxia local levam à produção de ácido láctico e outros metabólitos.

  • O pH reduzido altera o equilíbrio iônico das membranas neuronais.

  • O meio ácido afeta diretamente a farmacodinâmica de anestésicos locais.


Principais consequências clínicas:

  1. Redução da eficácia anestésica. Anestésicos como a lidocaína precisam estar na forma não ionizada para atravessar a membrana nervosa. Em pH ácido, predomina a forma ionizada, diminuindo a penetração e retardando ou impedindo o bloqueio nervoso adequado.

  2. Aumento da dor. O pH baixo sensibiliza nociceptores e intensifica a condução de impulsos dolorosos pelas fibras Aδ e C.

  3. Favorecimento de determinadas bactérias. Anaeróbios acidúricos, como Streptococcus, Lactobacillus e Actinomyces, proliferam mais facilmente em ambientes ácidos.

  4. Alteração na ação de irrigantes. O hipoclorito de sódio e a clorexidina apresentam atividade antimicrobiana reduzida em pH muito baixo.

3. Acidose sistêmica: considerações para o endodontista

Embora menos frequente no contexto odontológico imediato, condições sistêmicas que levam à acidose metabólica — como cetoacidose diabética ou insuficiência renal — merecem atenção:

  • Risco aumentado de complicações cardiovasculares.

  • Alterações na resposta a medicamentos, incluindo anestésicos.

  • Necessidade de avaliação médica prévia e adaptação do plano de tratamento.

4. Estratégias clínicas para contornar a acidose local.

O manejo adequado da acidose no contexto endodôntico envolve:

  1. Técnicas anestésicas alternativas

    • Utilizar o anestésico articaína a 4% pois é o único anestésico que pode passar pela cortical (local exato na imagem abaixo)

    • Realizar bloqueios nervosos distantes da área inflamada.

    • Associar técnicas intraligamentares ou intrapulpares em casos refratários.

  2. Controle da inflamação antes do procedimento

    • Uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) para auxiliar na restauração do pH local.

  3. Drenagem e alívio da pressão tecidual

    • Incisão e drenagem em abscessos contribuem para melhorar oxigenação e pH.

  4. Controle rigoroso da infecção

    • Instrumentação eficiente, irrigação abundante e uso racional de antibióticos quando indicados.

  5. Atenção ao estado sistêmico do paciente

    • Investigar comorbidades que possam interferir no metabolismo ácido-básico.



Local de anestesia

  1. Esquema da acidose e endodontia

Conclusão

A acidose, especialmente a de origem local, representa um desafio significativo na endodontia de urgência. Sua presença está diretamente relacionada à dificuldade anestésica, aumento da dor e alteração na resposta aos irrigantes.O conhecimento desse fenômeno permite ao cirurgião-dentista adotar condutas mais previsíveis, melhorando o conforto do paciente e a eficiência do tratamento.


Referências
Hargreaves KM, Keiser K. Local anesthetic failure in endodontics: mechanisms and management. Endodontic Topics. 2002;1(1):26-39.Walton RE, Abbott BJ. Periodontal ligament injection: a clinical evaluation. J Am Dent Assoc. 1981;103(4):571-575.Cohen S, Hargreaves KM. Pathways of the Pulp. 12th ed. St. Louis: Elsevier; 2021.

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