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O anestésico não está pegando?Acidose e Endodontia: Causa da falha na anestesia de dores intensas.

Atualizado: 5 de dez.


Anestésico e acidose pular

Acidose e Endodontia: Implicações Clínicas e Estratégias de Manejo


Introdução


Na prática endodôntica, especialmente em situações de urgência, é comum encontrar pacientes com dor intensa associada a inflamação e infecção. Em muitos desses casos, o pH tecidual encontra-se reduzido — um fenômeno denominado acidose local. Compreender como a acidose interfere nos mecanismos de dor, na eficácia anestésica e no controle da infecção é essencial para o planejamento de um atendimento eficiente e seguro.

1. Conceito de acidose

A acidose corresponde à redução do pH abaixo dos valores fisiológicos.

  • No sangue: valores normais variam entre 7,35 e 7,45. Alterações abaixo de 7,35 configuram acidose sistêmica.

  • Nos tecidos inflamados: o pH pode cair significativamente, chegando a valores entre 5,0 e 6,0.

Na endodontia, o quadro mais frequente é a acidose local, resultante de inflamações pulpares agudas e abscessos dentoalveolares.

2. Acidose local e seu impacto na endodontia

Durante um processo inflamatório intenso:

  • O aumento do metabolismo celular e a hipóxia local levam à produção de ácido láctico e outros metabólitos.

  • O pH reduzido altera o equilíbrio iônico das membranas neuronais.

  • O meio ácido afeta diretamente a farmacodinâmica de anestésicos locais.


Principais consequências clínicas:

  1. Redução da eficácia anestésica. Anestésicos como a lidocaína precisam estar na forma não ionizada para atravessar a membrana nervosa. Em pH ácido, predomina a forma ionizada, diminuindo a penetração e retardando ou impedindo o bloqueio nervoso adequado.

  2. Aumento da dor. O pH baixo sensibiliza nociceptores e intensifica a condução de impulsos dolorosos pelas fibras Aδ e C.

  3. Favorecimento de determinadas bactérias. Anaeróbios acidúricos, como Streptococcus, Lactobacillus e Actinomyces, proliferam mais facilmente em ambientes ácidos.

  4. Alteração na ação de irrigantes. O hipoclorito de sódio e a clorexidina apresentam atividade antimicrobiana reduzida em pH muito baixo.

3. Acidose sistêmica: considerações para o endodontista

Embora menos frequente no contexto odontológico imediato, condições sistêmicas que levam à acidose metabólica — como cetoacidose diabética ou insuficiência renal — merecem atenção:

  • Risco aumentado de complicações cardiovasculares.

  • Alterações na resposta a medicamentos, incluindo anestésicos.

  • Necessidade de avaliação médica prévia e adaptação do plano de tratamento.

4. Estratégias clínicas para contornar a acidose local.

O manejo adequado da acidose no contexto endodôntico envolve:

  1. Técnicas anestésicas alternativas

    • Utilizar o anestésico articaína a 4% pois é o único anestésico que pode passar pela cortical (local exato na imagem abaixo)

    • Realizar bloqueios nervosos distantes da área inflamada.

    • Associar técnicas intraligamentares ou intrapulpares em casos refratários.

  2. Controle da inflamação antes do procedimento

    • Uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) para auxiliar na restauração do pH local.

  3. Drenagem e alívio da pressão tecidual

    • Incisão e drenagem em abscessos contribuem para melhorar oxigenação e pH.

  4. Controle rigoroso da infecção

    • Instrumentação eficiente, irrigação abundante e uso racional de antibióticos quando indicados.

  5. Atenção ao estado sistêmico do paciente

    • Investigar comorbidades que possam interferir no metabolismo ácido-básico.



Local de anestesia

  1. Esquema da acidose e endodontia

Conclusão

A acidose, especialmente a de origem local, representa um desafio significativo na endodontia de urgência. Sua presença está diretamente relacionada à dificuldade anestésica, aumento da dor e alteração na resposta aos irrigantes.O conhecimento desse fenômeno permite ao cirurgião-dentista adotar condutas mais previsíveis, melhorando o conforto do paciente e a eficiência do tratamento.


Referências
Hargreaves KM, Keiser K. Local anesthetic failure in endodontics: mechanisms and management. Endodontic Topics. 2002;1(1):26-39.Walton RE, Abbott BJ. Periodontal ligament injection: a clinical evaluation. J Am Dent Assoc. 1981;103(4):571-575.Cohen S, Hargreaves KM. Pathways of the Pulp. 12th ed. St. Louis: Elsevier; 2021.


Fluxograma — O que fazer quando o anestésico não pega?

1. Identificar o cenário

  • Dor espontânea intensa.

  • Dente extremamente sensível ao toque.

  • Suspeita de pulpite irreversível ou abscesso em pressão.

2. Entender o motivo da falha

  • Ambiente ácido impede ação do anestésico.

  • Maior excitabilidade neuronal.

  • Pressão intratecidual elevada.

3. Ajustar a estratégia primária

  • Repetir bloqueio com técnica correta.

  • Associar articaína para infiltração suplementar.

  • Evitar depender apenas de uma técnica.

4. Técnicas suplementares

  • Intraligamentar.

  • Intraóssea.

  • Intrasseptal.

  • Intrapulpar (quando realmente necessário).

5. Reduzir acidose e pressão

  • Início da neutralização progressiva dos terços coronário e médio.

  • Irrigação abundante e descompressão do canal.

  • Controle inicial da inflamação.

6. Reavaliar resposta anestésica

  • Testar estímulos leves.

  • Verificar melhora progressiva conforme o canal descomprime.

7. Prosseguir com o tratamento

  • Iniciar Instrumento Memória e Glide Path com segurança.

  • Conduzir a instrumentação sem extrusão.

  • Evitar flares adicionais.


Perguntas Frequentes (FAQ) sobre Acidose, Dor Intensa e Falha Anestésica

Por que o anestésico não faz efeito em dentes com dor intensa?

Porque o ambiente ácido da inflamação impede que o anestésico local se torne lipossolúvel, reduzindo sua capacidade de atravessar a membrana neuronal e bloquear o sinal de dor.

O que causa acidose nos tecidos durante a dor endodôntica?

A infecção, a inflamação intensa e o metabolismo anaeróbico local geram acúmulo de íons H+, baixando o pH dos tecidos e comprometendo a ação dos anestésicos.

Por que o anestésico funciona melhor em tecidos saudáveis?

Porque o pH fisiológico favorece a conversão do anestésico para sua forma ativa, permitindo que ele atravesse a membrana neuronal e produza bloqueio efetivo.

A quantidade de anestésico resolve o problema?

Não necessariamente. Em ambiente ácido, aumentar o volume não corrige o mecanismo químico da falha. Estratégias complementares são mais eficazes.

Como posso melhorar a eficácia anestésica em casos de pulpite aguda?

Com técnicas suplementares como intraligamentar, intraóssea, infiltração bucal complementar, reforço do bloqueio e uso de articaína ou lidocaína em conjunto com anestesia suplementar.

A neutralização da inflamação ajuda na anestesia?

Sim. Reduzir pressão tecidual, controlar dor inicial e promover descompressão do canal aumenta significativamente o sucesso anestésico.



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