Reabsorção Cervical Externa: O Que Diz a Ciência? Um dos fatores vai ter surpreender.
- Endotoday
- 24 de jun.
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Atualizado: há 2 dias
🐱 Reabsorção Cervical Externa. O Que Diz a Ciência? Um dos fatores vai ter surpreender.
Por Prof. Dr. Marco Aurélio G. Borges
Publicado em: 24/06/2024
Introdução
A reabsorção cervical externa (ECR) é uma condição patológica odontológica que desafia clínicos pela sua etiologia pouco compreendida e diagnóstico muitas vezes tardio. O que tem chamado a atenção recentemente é um dado inusitado: a posse de gatos pode estar associada à ocorrência de ECR em humanos. Sim, você leu corretamente. E não se trata de uma especulação isolada — a hipótese vem sendo fortalecida por dados científicos consistentes.
Neste artigo, analisamos os principais achados do estudo observacional publicado por Patel et al. (2024) no International Endodontic Journal, um dos periódicos mais conceituados da endodontia mundial.
O que é Reabsorção Cervical Externa (ECR)?

A ECR é caracterizada pela perda progressiva de tecido dentário duro (cimento, dentina) na região cervical do dente, causada pela atividade de células clásticas — os odontoclastos. Muitas vezes assintomática, essa condição pode ser detectada em estágios avançados apenas por meio de exame radiográfico, especialmente com o uso de tomografia computadorizada de feixe cônico (CBCT).
O Estudo: Metodologia e Amostra
O estudo foi conduzido em centros especializados em endodontia no Reino Unido e avaliou:
194 pacientes com diagnóstico de ECR
215 dentes acometidos
Intervalo de coleta: 2017 a 2022
Os autores investigaram uma lista abrangente de fatores predisponentes, incluindo trauma dental, tratamento ortodôntico, parafunções, uso de bisfosfonatos — e posse de gatos.
Principais Resultados
Os achados foram surpreendentes:
57,7% dos casos apresentaram um único fator predisponente
22,3% não apresentaram nenhum fator identificável
15,8% dos casos estavam associados à posse de gatos
Essa associação foi estatisticamente significativa (p = 0,002)
Gatos foram particularmente associados a casos de ECR em molares mandibulares

Qual seria a explicação?
A hipótese principal é baseada na possível transmissão viral entre gatos e humanos, mais especificamente o feline herpesvirus type 1 (FHV-1). Esse vírus é altamente prevalente em gatos e conhecido por induzir osteoclastogênese — o processo que leva à ativação de células que degradam tecidos mineralizados.
A teoria, inicialmente proposta por von Arx et al. (2009), sugere que esse agente viral poderia ter ação cruzada em humanos, especialmente em indivíduos suscetíveis, desencadeando processos de reabsorção dentária em regiões vulneráveis como a cervical.
Implicações clínicas
Esses achados reforçam a importância de uma anamnese minuciosa em pacientes com suspeita ou diagnóstico de ECR. Incluir a pergunta:
“Você possui ou já teve gatos em casa?”pode fazer parte da nova abordagem investigativa no consultório endodôntico.
Além disso, o uso de CBCT se mostrou essencial para o diagnóstico precoce e correto da extensão da lesão.

Considerações Finais
Embora ainda não se possa estabelecer uma relação causal direta entre a posse de gatos e a ECR, a correlação estatística observada neste estudo levanta uma nova frente de investigação científica.
Fica o alerta: nem todo canal nasce de trauma ou ortodontia. Às vezes, há um gato na história.
Referência Principal
Patel, S., Abella, F., Patel, K., Bakhsh, A., Lambrechts, P., & Al-Nuaimi, N. (2025). Potential predisposing features of external cervical resorption: An observational study. International Endodontic Journal, 58, 273–283. https://doi.org/10.1111/iej.14166
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