top of page

Cimentos Endodônticos sem Segredos: A Ciência por Trás da Biocompatibilidade e do Combate Microbiano

Propriedades Antimicrobianas e Citotóxicas dos Cimentos Endodônticos: O Que os Estudos Recentes Revelam?


No tratamento de infecções endodônticas, a escolha do cimento para obturação do canal radicular é um passo crítico que vai além de simplesmente preencher o espaço. A eficácia do tratamento depende não apenas da eliminação das bactérias, mas também da compatibilidade do material com os tecidos adjacentes, o que garante uma resposta biológica adequada para a regeneração periapical. Neste post, exploramos as descobertas mais recentes sobre as propriedades químicas, antimicrobianas e citotóxicas de diferentes cimentos endodônticos e como essas características influenciam os resultados clínicos.


Por Que o Cimento Endodôntico Precisa Ser Antimicrobiano?



Infecções como a periodontite apical são frequentemente causadas por microrganismos que invadem o sistema de canais radiculares. Essas infecções são persistentes, e mesmo após um tratamento endodôntico rigoroso, certas bactérias podem continuar presentes, causando inflamação ou reinfecção. Para evitar que isso ocorra, o cimento utilizado para obturação deve não apenas preencher o canal, mas também oferecer uma barreira eficaz contra esses patógenos.

Enterococcus faecalis e Fusobacterium nucleatum são exemplos de bactérias frequentemente encontradas em infecções secundárias. Elas são resistentes e difíceis de erradicar com os métodos de tratamento tradicionais, sendo responsáveis por lesões persistentes e complicações clínicas. Portanto, a ação antimicrobiana do cimento se torna um fator essencial na escolha do material, especialmente para casos que apresentam maior complexidade ou lesões periapicais extensas.


Avaliando as Propriedades dos Cimentos Endodônticos.


Um estudo recente avaliou quatro cimentos endodônticos amplamente utilizados em consultórios odontológicos: AH Plus(base de resina epóxi) e três cimentos à base de silicato de cálcio – AH Plus Bioceramic, BioRoot RCS e BioRoot Flow. Esses materiais foram analisados em relação à sua capacidade de liberar íons, alterar o pH do meio e inibir o crescimento bacteriano ao longo de períodos de 28 e 90 dias.

Aqui estão os principais achados:

  • Liberação de Íons e Ambiente Alcalino: Os cimentos à base de silicato de cálcio, como o BioRoot RCS e BioRoot Flow, destacaram-se pela capacidade de liberar íons de cálcio e de manter um ambiente alcalino, com pH elevado. Esse fator é benéfico para a biocompatibilidade e para criar um ambiente hostil para as bactérias, dificultando sua sobrevivência e proliferação no local.

  • Atividade Antimicrobiana Limitada: Entre os cimentos testados, o AH Plus Bioceramic mostrou uma redução significativa nas colônias de E. faecalis após 28 dias de contato. No entanto, essa atividade antimicrobiana não foi sustentada aos 90 dias, sugerindo que a eficácia inicial pode não ser suficiente para evitar infecções a longo prazo. Já outros cimentos não demonstraram ação antimicrobiana relevante.

  • Citocompatibilidade e Atividade da Fosfatase Alcalina (ALP): A Fosfatase Alcalina (ALP) é uma enzima produzida por células osteoblásticas e funciona como marcador de formação óssea. Níveis adequados de ALP indicam um ambiente favorável para a regeneração óssea e a cura de tecidos periapicais. No entanto, observou-se que o lixiviado dos cimentos AH Plus Bioceramic e BioRoot RCS reduziu os níveis de ALP nas primeiras 24 horas. Esse efeito não se manteve ao longo do tempo, indicando que os materiais são, no geral, biocompatíveis, embora possam gerar um efeito inicial menos favorável à formação óssea.


Imagens eletrônicas de varredura dos selantes testados aos 0, 28 e 90 dias, obtidas com o modo de retrodispersão com ampliação de 1.000x. As setas brancas indicam as partículas brilhantes de zircônio e as setas pretas mostram a formação de poros observada ao longo do tempo. As rachaduras observadas em algumas imagens são artefatos devido à colocação dos materiais saturados em vácuo durante o procedimento de microscopia eletrônica de varredura (MEV).
Imagens eletrônicas de varredura dos selantes testados aos 0, 28 e 90 dias, obtidas com o modo de retrodispersão com ampliação de 1.000x. As setas brancas indicam as partículas brilhantes de zircônio e as setas pretas mostram a formação de poros observada ao longo do tempo. As rachaduras observadas em algumas imagens são artefatos devido à colocação dos materiais saturados em vácuo durante o procedimento de microscopia eletrônica de varredura (MEV).


Qual o Impacto dessas Descobertas para a Endodontia Clínica?


Esses resultados trazem uma reflexão importante para a prática clínica. A capacidade antimicrobiana dos cimentos é um aspecto essencial, mas parece ser limitada em alguns materiais testados, o que pode representar um risco em casos de infecções complexas e resistentes. Além disso, os resultados sobre a ALP indicam que o cimento deve ser cuidadosamente selecionado para não comprometer o potencial de regeneração dos tecidos periapicais.

Além da biocompatibilidade, o alto pH e a liberação contínua de íons são características que favorecem o ambiente ao redor dos tecidos tratados. Os cimentos à base de silicato de cálcio, que mantêm um pH elevado, se destacam nesse aspecto e podem oferecer vantagens na promoção de um ambiente hostil para as bactérias e favorável para a regeneração tecidual. Contudo, é fundamental considerar que nenhum cimento isoladamente atenderá a todas as demandas clínicas, sendo a personalização do tratamento uma estratégia importante para maximizar o sucesso dos casos.


Conclusão: A Escolha do Cimento Certo Faz a Diferença


Ao selecionar um cimento para obturação do canal radicular, é essencial que o profissional leve em conta tanto a biocompatibilidade quanto a ação antimicrobiana do material. Os cimentos de base resinosa e os cimentos biocerâmicos possuem vantagens e limitações, e conhecer as características de cada um auxilia o profissional a decidir pelo material mais adequado para cada caso específico. Essa decisão, baseada em conhecimento técnico e científico, aumenta as chances de sucesso do tratamento endodôntico, reduzindo o risco de complicações e promovendo a recuperação saudável dos tecidos periapicais.

Para mais dicas sobre materiais e técnicas em endodontia, acompanhe o blog da EndoToday e fique por dentro das últimas pesquisas e avanços no campo!

Chemical, Antibacterial, and Cytotoxic Properties of Four Different Endodontic Sealer Leachates Over Time

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page