top of page

Adeus, Pulpite Irreversível?

A nova proposta de classificação diagnóstica da AAE e ESE, então é um adeus ao termo Pulpite Irreversível ?


Contexto Histórico

Em 2009, a American Association of Endodontists (AAE) consolidou sua terminologia diagnóstica, definindo os termos “pulpite reversível” e “pulpite irreversível” como categorias principais para inflamações pulpares. Essa classificação serviu como guia clínico por mais de uma década, sendo amplamente incorporada em prontuários, livros-texto e pesquisas internacionais (AAE Consensus Conference Recommended Diagnostic Terminology, 2009).

Entretanto, ao longo dos anos, esse modelo passou a ser criticado pela comunidade científica. O termo irreversível sugere uma condição definitiva, condenando a polpa ao tratamento endodôntico radical (pulpectomia), sem considerar o potencial de reparo demonstrado em diversos estudos recentes.



Pulpite

O Problema do Termo “Irreversível”


O uso de “pulpite irreversível” implica que a inflamação pulpar não pode ser revertida, devendo obrigatoriamente levar ao tratamento endodôntico convencional. Porém, pesquisas clínicas e histológicas demonstraram que, mesmo em casos diagnosticados como “irreversíveis”, há potencial de sucesso com terapias mais conservadoras, como a Terapia Pulpar Vital (VPT), incluindo pulpotomias parciais e totais (Taha et al., 2017; Asgary et al., 2018).

Dessa forma, a classificação antiga não traduzia a realidade biológica da polpa dentária, que apresenta capacidade de reparo em diversos níveis inflamatórios.


A Nova Proposta AAE–ESE (2023–2025)

Reconhecendo essas limitações, a AAE e a European Society of Endodontology (ESE) formaram um comitê conjuntoque apresentou, em 2023, uma nova proposta de terminologia diagnóstica para consulta pública. O objetivo foi alinhar a nomenclatura às evidências contemporâneas sobre a biologia pulpar e os resultados clínicos da VPT.

Na nova tabela diagnóstica, os termos foram ajustados:

  • Pulpa normal

  • Pulpite leve (antes: reversível)

  • Pulpite severa (antes: irreversível)

  • Necrose pulpar

Essa mudança busca eliminar a ideia de “irreversibilidade absoluta” e promover a noção de um espectro inflamatório contínuo, em que a tomada de decisão clínica deve se basear em sinais, sintomas e condições do remanescente pulpar, e não em uma etiqueta diagnóstica estática (AAE–ESE Joint Committee Proposal, 2023).


Tabela de comparação

Tabela de diagnóstico periapical

Implicações Clínicas

A adoção dessa nova classificação tem impacto direto na prática:

  1. Maior abertura para VPT – Casos antes indicados diretamente para tratamento endodôntico podem ser avaliados para terapias conservadoras.

  2. Diagnóstico mais preciso – A terminologia reflete melhor a realidade histopatológica e clínica da polpa.

  3. Alinhamento com a biologia – A visão em “espectro inflamatório” facilita a individualização do tratamento.

  4. Ensino e pesquisa – A formação acadêmica deve incorporar essa atualização, preparando novos profissionais para uma prática mais biológica e conservadora.



“Do rótulo fixo à visão em espectro inflamatório: uma nova era para o diagnóstico pulpar.”

Conclusão

A substituição dos termos “pulpite reversível” e “irreversível” pela classificação leve e severa representa não apenas uma mudança terminológica, mas uma mudança de paradigma na Endodontia. O foco desloca-se de um diagnóstico determinista para uma avaliação mais integrada e dinâmica, favorecendo decisões clínicas conservadoras e baseadas em evidências.

Ainda que a proposta esteja em fase de consulta pública, é fundamental que professores, clínicos e pesquisadores conheçam e discutam essa atualização. A tendência é que, nos próximos anos, essa nomenclatura se torne o novo padrão de referência internacional.


Referências

  1. American Association of Endodontists. Consensus Conference Recommended Diagnostic Terminology. Chicago: AAE, 2009.

  2. Taha, N. A., et al. (2018). "Outcome of full pulpotomy using Biodentine in adult patients with symptoms indicative of irreversible pulpitis." International Endodontic Journal, 50(11): 940–948..

  3. AAE–ESE Joint Committee. Proposed Terminology Update for Endodontic Diagnosis. AAE & ESE, 2023.

  4. El Sweify, H. M., Abdelsalam, N., Hashem, N., Fouda, A. M., Bourauel, C., Sharaan, M. (2025). "Investigation of the location of the apical constriction in relation to the flash bar of an apex locator: a micro-CT study." Journal of Endodontics, 51(1): 12–20.



Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page