Cuidado com o "APEX"do seu localizador: Sua Lima Pode Estar Indo Longe Demais!
- Endotoday
- há 2 dias
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A precisão na determinação do comprimento de trabalho continua sendo um desafio técnico-clínico crucial na endodontia. Dois estudos recentes — com abordagens complementares — analisaram de forma rigorosa o desempenho do localizador apical eletrônico Root ZX e revelaram que confiar cegamente no sinal “APEX” pode representar um erro clínico grave.
🧠 Estudos analisados com localizador Root ZX
1. El Sweify et al. (JOE, 2025)
Investigation of the Location of the Apical Constriction in Relation to the Flash Bar of an Apex Locator: A Micro-CT Study📍 Localização da constrição apical (CA) validada por microtomografia computadorizada (micro-CT) e microscopia operatória em relação à barra de flash do Root ZX.
2. Alothmani & Siddiqui (Cureus, 2023)
Accuracy of Root ZX Electronic Apex Locator in Relation to Two Different Employment Protocols📍 Avaliação da acurácia do Root ZX na determinação do forame apical e do ponto 0,5 mm coronal, com simulação clínica in vitro em 75 dentes.
Investigation of the Location of the Apical Constriction in Relation to the Flash Bar of an Apex Locator: A Micro-CT Study
🎯 Objetivo
O estudo teve como objetivo correlacionar a localização anatômica real da constrição apical (CA) com os sinais digitais do localizador apical eletrônico Root ZX, utilizando microtomografia computadorizada (micro-CT) e microscopia operatória. A proposta central foi identificar qual protocolo de uso do Root ZX proporciona maior proximidade entre a ponta da lima e a CA, ou seja, a zona de transição fisiológica crítica do canal radicular.
🧪 Metodologia (resumo)
Amostra: 30 dentes unirradiculares humanos extraídos.
Protocolos testados com o Root ZX:
Grupo I – Lima avançada até o “APEX” e recuada até o fim da zona azul
Grupo II – Recuo até a marca “0,5”
Grupo III – Sem recuo, mantendo a lima no “APEX”
Após fixação da lima no local, as amostras foram examinadas com micro-CT e microscópio cirúrgico.
As distâncias entre a ponta da lima e a CA foram medidas com software específico e analisadas estatisticamente.
📊 Resultados principais
O protocolo “fim da zona azul” foi o mais preciso, com 100% de posicionamentos dentro da margem de ±0,5 mm da CA.
O protocolo “0.5” teve precisão entre 80–85%.
O grupo “APEX” apresentou apenas 0–5% de acertos, com média de extrusão de 1,24 mm além da CA.
A superestimação da posição ideal da lima ocorreu em:
30% dos casos no grupo “0.5”
60% no grupo “APEX”
Correlação estatisticamente significativa e positiva entre as medidas de micro-CT e microscopia (r = 0,91), fortalecendo a validade do método.
✅ Pontos fortes do estudo
Uso de micro-CT, um padrão-ouro em análise tridimensional da anatomia apical.
Comparação direta com marcadores do localizador eletrônico, trazendo aplicabilidade clínica imediata.
Validação cruzada com microscopia operatória reforça a robustez metodológica.
Análise estatística bem delineada e foco em margens clínicas realistas (±0,5 mm).
⚠️ Limitações
Tamanho da amostra moderado (30 dentes), embora suficiente para ensaio inicial.
Natureza in vitro: apesar da alta precisão do micro-CT, variáveis clínicas in vivo como presença de exsudato, irrigantes residuais ou sangramento não foram simuladas.
A análise se restringiu ao Root ZX – resultados não necessariamente extrapoláveis a outros localizadores.
🔬 Conclusão crítica
Este estudo fornece evidência clara e objetiva de que a leitura "APEX" do Root ZX não deve ser considerada como ponto final para o posicionamento da lima. A extrapolação apical observada em até 60% dos casos é clinicamente inaceitável, especialmente em dentes com ápices abertos, reabsorções ou em casos cirúrgicos.
O protocolo mais preciso foi o recuo até o fim da zona azul, confirmando a observação clínica de que o fim da zona azul coincide com a constrição apical em maior proporção dos casos. Esse achado corrobora estudos anteriores e reforça a importância de educar o clínico para não confiar exclusivamente no visor digital do localizador sem senso anatômico e verificação clínica.

Accuracy of Root ZX Electronic Apex Locator in Relation to Two Different Employment Protocols: An In Vitro Study
Autores: Osama S. Alothmani & Amna Y. Siddiqui Publicado em: Cureus, Setembro de 2023DOI: 10.7759/cureus.44659
🎯 Objetivo do estudo
Avaliar a precisão do localizador apical eletrônico Root ZX na determinação do comprimento de trabalho de canais radiculares unirradiculares, comparando dois protocolos de uso clínico:
Avanço da lima até a marca “APEX” na tela digital.
Avanço até “APEX” seguido de recuo até a marca “0.5”, conforme as recomendações do fabricante.
O estudo buscou determinar qual protocolo melhor se aproxima do forame apical real ou da posição 0,5 mm coronal a ele (conhecida como referência anatômica para a constrição apical).
🔬 Metodologia
Amostra: 75 pré-molares unirradiculares extraídos, sem calcificações, canais obstruídos ou ápices fraturados.
Instrumentação inicial: Abertura coronária com brocas Gates Glidden #4, #3 e #2.
Determinação do comprimento real (Actual Length – AL): Lima K #8 foi inserida até o limite mais coronal do forame apical sob lupa 4x.
Comprimento de referência (Reference Length – RL): Subtração de 0,5 mm do AL, representando a posição ideal de término do preparo.
✳️ Simulação clínica in vitro:
Os dentes foram montados em blocos de espuma porosa embebidos em solução de Ringer, cobertos por lençol de borracha, para simular um ambiente condutivo.
O Root ZX foi utilizado com limas K #8 em meio irrigado com NaOCl a 5%.
Cada protocolo foi repetido uma semana após a primeira medição. A média das duas medições foi utilizada para análise estatística (teste t, p < 0.05).
📈 Resultados
Medição | Média ± DP (mm) |
Comprimento real (AL) | 13,32 ± 1,34 |
Comprimento de referência (RL) | 12,82 ± 1,33 |
Marca “APEX” | 14,27 ± 1,49 |
Marca “0.5” | 13,74 ± 1,45 |
📌 Interpretação dos dados:
A marca “APEX” superestimou o comprimento real em 94,7% dos casos.
Apenas 17% das medições ficaram dentro de ±0,5 mm do forame.
57% estavam dentro de ±1 mm do forame.
A marca “0.5” apresentou melhores resultados:
53% dentro de ±0,5 mm do forame.
86% dentro de ±1 mm do forame.
⚠️ Importante: mesmo a marca “0.5” ultrapassou ligeiramente o AL médio, indicando que o risco de sobreinstrumentação ainda existe, embora seja menor.
🧠 Discussão crítica
Este estudo confirma que o Root ZX localiza preferencialmente o forame apical, e não a constrição apical. Ao seguir o protocolo clínico sugerido pelo fabricante — avançar até “APEX” e recuar até “0.5” — obtém-se maior proximidade do forame sem ultrapassá-lo, em comparação ao uso direto do “APEX”.
🔍 Implicações clínicas:
A marca “APEX” deve ser interpretada com cautela, pois sua utilização isolada frequentemente resulta em instrumentação além do forame.
Utilizar a marca “0.5” após o recuo é mais seguro, mas ainda pode resultar em ultrapassagens mínimas em alguns casos.
A verificação radiográfica continua sendo uma medida complementar importante.
O uso de lima #8 e a prévia instrumentação coronária aumentam a precisão do Root ZX, conforme literatura prévia e confirmado neste estudo.
📌 Conclusões dos autores
O Root ZX localiza de forma mais precisa o forame apical, especialmente quando utilizado de acordo com as recomendações do fabricante.
A frequente sobreestimativa do comprimento requer atenção na prática clínica.
Estudos futuros devem explorar formas adicionais de reduzir o risco de sobreinstrumentação, inclusive com CBCT e comparação com outros dispositivos.
Afinal, onde para sua lima? O Root ZX está mesmo localizando a constrição apical?
📚 Ambos os estudos mostraram que o localizador eletrônico Root ZX, embora amplamente confiável, apresenta tendência a ultrapassar o forame apical quando utilizado diretamente até a marca "APEX".
📊 Resultado? O uso do “APEX” direto levou à ultrapassagem do forame em quase 95% dos casos! Já o protocolo com recuo para “0.5” obteve 86% de precisão dentro de ±1 mm do forame.
Conclusão: Utilizando o Root ZX o ideal é ficar sempre 0,5 para obter menor possibilidade de estar sobreinstrumentando.

⚠️ Mesmo o “0.5” pode ser levemente além da constrição apical. Então atenção: a melhor estratégia continua sendo associar o localizador eletrônico com o julgamento clínico, imagem radiográfica e conhecimento anatômico.
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