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Alerta Vermelho na Endodontia: Como Prevenir Infecções Odontogênicas Severas e Evitar Complicações Hospitalares

As infecções odontogênicas são eventos comuns na prática odontológica, mas, em casos mais severos, podem evoluir rapidamente para quadros graves que exigem hospitalização e até cuidados intensivos principalmente em Espaços profundos.. Um estudo recente realizado na Austrália destacou fatores cruciais que contribuem para o agravamento dessas infecções, oferecendo insights valiosos para a prevenção e o manejo adequado dessas condições (Petroff et al., 2025).


Espaços profundos. 

Referem-se às áreas anatômicas da face e do pescoço que estão localizadas abaixo das camadas superficiais da pele e dos músculos, onde infecções odontogênicas podem se espalhar rapidamente. Esses espaços incluem o espaço submandibular, sublingual, submental, pterigomandibular, parafaríngeo, entre outros.

Essas regiões são particularmente preocupantes porque:

  1. Proximidade com vias aéreas: Infecções nesses espaços podem comprometer a respiração, como no caso da Ludwig's angina.

  2. Risco de disseminação sistêmica: Infecções podem se propagar para o mediastino (mediastinite), uma condição grave que pode ser fatal.

  3. Dificuldade de drenagem: A drenagem cirúrgica em espaços profundos é mais complexa, frequentemente necessitando de anestesia geral e hospitalização.



    Espaços profundos
    Espaços Profundos.


Principais Fatores de Risco Identificados nas infecções odontogênicas.


1. Dentes Mais Afetados:

- Molares inferiores foram responsáveis por 92,1% das infecções graves. Devido à sua anatomia complexa e localização próxima a espaços faciais profundos, esses dentes apresentam maior risco de disseminação da infecção.

-95,8% das infecções ocorreram na mandíbula, uma região onde o fluxo sanguíneo menos abundante pode dificultar a resposta imunológica e favorecer a propagação da infecção para espaços profundos.


2.Condições Dentárias Associadas:

-87,8% dos dentes afetados apresentavam cáries não tratadas, que atuam como porta de entrada para bactérias, levando à necrose pulpar e à formação de abscessos.

-95,8% estavam associados a radiolucência apical, um indicativo claro de periodontite apical assintomática, que pode evoluir para infecções agudas se não tratada adequadamente.

- Apenas 4,2% dos dentes afetados tinham passado por tratamento endodôntico, sugerindo que o tratamento de canal, quando bem executado, é um fator protetor contra infecções severas.


3.Fatores Sistêmicos:

- 56,9% dos pacientes eram fumantes atuais. O tabagismo compromete a resposta imunológica do organismo, reduzindo a capacidade de combater infecções e favorecendo a proliferação bacteriana.

- 16,4% tinham diabetes, condição que dificulta a cicatrização e o controle das infecções devido à hiperglicemia crônica, que prejudica a função dos leucócitos.


Complicações Mais Comuns


1. Espaços Anatômicos Atingidos:

- O espaço submandibular foi o mais afetado (56,1%). Infecções nessa região podem causar dor intensa, edema pronunciado e dificuldade para engolir, aumentando o risco de disseminação para espaços mais profundos.

- A temida Angina Ludwig's (1,6%) é uma infecção difusa do assoalho da boca, que pode rapidamente comprometer as vias aéreas superiores, levando à necessidade de intervenção de urgência para manter a via aérea desobstruída.


2.Necessidade de Intervenção Hospitalar:

- 83,1% dos pacientes precisaram de internamento em UTI, devido ao risco de disseminação sistêmica da infecção, incluindo a possibilidade de sepse.

- 88,4% necessitaram de anestesia geral para drenagem cirúrgica da infecção, especialmente em casos onde o comprometimento anatômico impedia procedimentos sob anestesia local.


O que o Dentista Deve Observar na Prática Clínica?


1. Diagnóstico Precoce:

- Radiolucências apicais não devem ser negligenciadas, mesmo que assintomáticas, pois podem indicar infecções crônicas com potencial para agudização.

- Identificar sinais de edema, trismo e dor intensa, especialmente em regiões submandibulares, que podem indicar disseminação da infecção para espaços profundos.


2. Histórico do Paciente:

- Verificar se o paciente é fumante ou possui diabetes. Essas condições aumentam significativamente o risco de complicações infecciosas e dificultam o prognóstico.

- Pacientes com histórico de infecções recorrentes ou tratamentos odontológicos incompletos devem ser monitorados de perto.


3. Prevenção e Intervenção Rápida:

- Tratar cáries precocemente é essencial para evitar a necrose pulpar e a subsequente infecção periapical.

- Tratamentos endodônticos bem executados demonstraram ser um fator protetor importante, reduzindo significativamente o risco de infecções severas.

- Em casos de suspeita de disseminação para espaços profundos, encaminhar imediatamente para atendimento hospitalar, evitando atrasos que possam resultar em complicações graves.


Conclusão


A prevenção de infecções odontogênicas severas passa por um acompanhamento rigoroso das condições dentárias e sistêmicas dos pacientes. O dentista é a primeira linha de defesa contra essas complicações, sendo fundamental a atuação proativa na detecção precoce e no tratamento adequado. Estar atento a fatores de risco, como cáries não tratadas, periodontite apical, tabagismo e diabetes, pode salvar vidas e reduzir significativamente a necessidade de intervenções hospitalares complexas.




Referência:

Petroff, L., Richardson, R., Jensen, E., Cheng, A., Sambrook, P., & Rossi-Fedele, G. (2025). Association between endodontic, patient-related factors and severe odontogenic infections; a South Australian retrospective audit. International Endodontic Journal, 00, 1–9. https://doi.org/10.1111/iej.14204



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